Por que, afinal, o Brasil não cresce como o resto do mundo?

PIB brasileiro de 2021 dá sinais de fraqueza. Neste mês, o IBGE divulgou que o nível de atividade doméstico do segundo trimestre caiu. O mercado imediatamente revisou as expectativas de crescimento para baixo e mudou sua visão sobre a evolução da economia para os próximos meses. Mesmo com todo o crescimento internacional, parece que o Brasil não consegue surfar essa onda positiva e apresentar resultados semelhantes. Por que, afinal, o Brasil não cresce como o resto do mundo?

É fato que, assim como aconteceu no início dos anos 2000, o Brasil produz muito daquilo que é demandado pelos países que mais crescem no mundo. Ou seja, o crescimento internacional “vaza” para o Brasil através da balança comercial, mas não é transformado em dinâmica interna.

Características da pauta de Exportação

Dentre os destaques da nossa pauta de exportação, estão os produtos da indústria extrativa. Se considerarmos as exportações acumuladas entre janeiro e agosto de 2021 contra o mesmo período do ano anterior, é possível verificar que a esse segmento do setor secundário cresceu mais de 80%. O saldo de empregos formais criados por ele (admissões – desligamentos), no entanto, não chega sequer a 15 mil vagas diretas. Para se ter uma ideia, o setor agropecuário e a indústria da transformação, cujas exportações cresceram aproximadamente 20% se levarmos em conta o mesmo período de comparação, criaram 170 mil e 370 mil vagas respectivamente.

Como a indústria extrativa é intensiva em tecnologia e pouco intensiva em mão-de-obra, é possível produzir muito mais contratando muito menos. Se não existe contratação de pessoas, também não existe aumento da renda e do consumo das famílias. Cabe lembrar que o PIB pode ser calculado de duas formas distintas que obrigatoriamente produzem o mesmo resultado: sob a ótica da oferta e sob a ótica da demanda. O consumo das famílias é o componente mais importante para o crescimento do PIB sob a ótica da demanda.

Ainda sobre a balança comercial, que é a porta de entrada do mercado internacional para a economia doméstica produtiva, outro movimento salta aos olhos. Os recursos criados através das exportações não estão sendo repatriados. Nos últimos 12 meses, o saldo comercial brasileiro superou os US$ 60 bilhões, mas menos de US$ 12 bilhões regressaram ao Brasil.

Por diversos motivos, as empresas estão mantendo seus recursos fora do país. Aproximadamente US$ 50 bilhões de dólares não retornaram para serem transformados em investimento e não foram usados para a criação de novos postos de trabalho. Em suma, US$ 50 bilhões, valor que equivale a 3,5% do PIB nacional de 2020, não foram reinvestidos no Brasil.

O Mercado Financeiro

Há outro motivo pelo qual os recursos não estão sendo aplicados na esfera produtiva da economia: a atratividade do mercado financeiro. Com o aumento da Selic, os títulos públicos, que apresentam baixo risco, ficaram extremamente atrativos. Essa conjuntura desincentiva o poupador a fazer um investimento direto e o incentiva a deixar seus recursos no mercado financeiro, onde nem sempre ele é utilizado para fomentar a economia real.

Em suma, o crescimento internacional bate na porta da economia brasileira, mas para se transformar em dinâmica doméstica, é preciso que os recursos advindos dessas operações sejam reaplicados no Brasil. Ao que parece, no entanto, quem tem a posse desses recursos não está disposto a fazê-lo.